A história da Acadêmicos de Gravataí é também a história do samba em seu município. Tudo começou no final dos anos 1950, quando as famílias Nunes, Santos, Nascimento e Salazar fundaram o cordão carnavalesco “Os Mais ou Menos”, que saía do bairro Oriçó em direção ao centro da cidade, levando alegria, samba e a essência da festa popular.
Desse movimento nasceu o sonho de construir uma escola de samba. Assim, em 26 de fevereiro de 1961, Ayrton Santos e Adalberto Nascimento fundaram oficialmente a Acadêmicos do Samba, que anos depois passaria a se chamar Acadêmicos de Gravataí. Com o passar dos anos, a escola também ganhou força, cor e identidade. Vermelho, preto e branco tornaram-se suas cores oficiais, e a Onça Negra em posição de ataque passou a representar a garra de sua comunidade.
Nas décadas de 1970 e 1980, a Acadêmicos viveu tempos gloriosos nos carnavais de rua de Gravataí, desfilando pela Avenida José Loureiro da Silva e parando a cidade com o som contagiante do samba e o brilho da sua comunidade. No final dos anos 1980, após o grande sucesso conquistado em Gravataí, a escola foi convidada a desfilar no Carnaval de Porto Alegre, participando como cordão de sociedade nos desfiles da capital.
A partir de 1993, já sob a presidência de Heitor Bitencourt, a Acadêmicos passou a competir oficialmente no Carnaval de Porto Alegre, integrando o Grupo Intermediário B da época. Durante os anos 1990, a Onça Negra começou a se firmar entre as grandes escolas da capital. Em 1997, com o enredo “Em briga de marido e mulher, a Acadêmicos não mete a colher”, a escola conquistou o título do Grupo Intermediário A, garantindo o acesso ao Grupo Especial do Carnaval de Porto Alegre.
No ano seguinte, em 1998, a escola estreou no Grupo Especial com o enredo “Maravilhas de Atlântida, a Fantástica Ilha do Encanto”. Apesar da garra e da paixão da comunidade, a falta de estrutura frente às grandes escolas da capital pesou, e a Onça Negra acabou ficando em último lugar, sendo rebaixada naquele ano.
Em 1999, a escola voltou a se destacar com o divertido enredo “De vermelho, preto e branco. A Acadêmicos ensaboa, ensaboa e vai se ensaboando”, sobre a origem do sabão, um desfile criativo e irreverente que conquistou o título do Grupo Intermediário A, garantindo o retorno da Onça Negra à elite do Carnaval Gaúcho no ano 2000.
No Carnaval de 2000, a Acadêmicos manteve-se no Grupo Especial, apresentando o enredo “A Acadêmicos de mala e cuia viaja a São Miguel, berço do Rio Grande – Patrimônio Histórico da Humanidade”, um espetáculo que exaltou a história dos Sete Povos das Missões e rendeu um dos sambas mais antológicos da escola, cantado até hoje com orgulho por seus componentes. Já em 2001, apesar da garra e da força da comunidade, a Acadêmicos enfrentou dificuldades na montagem de seu desfile e acabou sendo rebaixada novamente ao Grupo Intermediário A.
Na sequência, vieram carnavais marcantes, como o de 2003, com o enredo “Dos chineses à origem, com o italiano à fama… Mamma Mia!”, que contou a trajetória da massa, unindo história e humor em um espetáculo memorável. Apesar de ter ficado com o vice-campeonato no Grupo Intermediário A, o desfile é considerado até hoje pelos componentes como um dos grandes momentos da Acadêmicos de Gravataí, pela força do samba, eternizado no verso “Olha o peso dessa onça pra galera ficar louca!”.
A partir de 2005, a presidência passou a Rita Bitencourt, que comandou a escola até 2019, dando início a um dos períodos mais emblemáticos de sua história. Filha do ex-presidente Heitor Bitencourt, Rita já trazia consigo uma trajetória de envolvimento e paixão pela Acadêmicos de Gravataí. Quando assumiu o comando, a escola se encontrava no Grupo Intermediário B, e ela abraçou a missão de recolocar a Onça Negra entre as grandes escolas do Carnaval de Porto Alegre. Com um novo olhar e uma forma moderna de administrar, Rita profissionalizou a escola, fortaleceu a comunidade e integrou novas pessoas que acreditaram no seu projeto.
O resultado veio rapidamente: sob sua liderança, a Acadêmicos conquistou o título do Grupo Intermediário B, subiu para o Grupo Intermediário A e, logo em seguida, alcançou o tão sonhado retorno ao Grupo Especial em 2007. Sua gestão marcou uma era de crescimento, união e conquistas que consolidaram definitivamente o respeito e a grandiosidade da Acadêmicos de Gravataí, referência no cenário do carnaval porto-alegrense.
Em 2007, a escola retornou ao Grupo Especial, conquistando um 4º lugar e emocionou o público com o enredo “O Brasil que Emociona e Encanta é Aquele Construído com a Força de Seu Povo”. Em 2008, viajou à Europa e conquistou o 6º lugar com o poético “Paris, Cidade Luz que Ilumina o Passeio da Onça Negra”. Em 2011, comemorou 50 anos com “A Onça Negra festeja o seu Cinquentenário em um Doce Refúgio chamado Cacique de Ramos”. Em 2014, com “Caprichando e Garantindo, Gravataí te Leva a Festejar na Ilha de Tupinambarana”, rendeu 4º lugar e um samba considerado por muitos o da década.
Em 2016, a Onça Negra conquistou o vice-campeonato com “Entre as Águas do Paraguaçu e da Mirim, Gravataí é Taim”, consagrando o amadurecimento estético e técnico da escola.
Em 2019, a presidência foi assumida por Anderson Nascimento, neto de um dos fundadores, Adalberto Nascimento. A família Nascimento tem longa ligação com a história da Acadêmicos. Anderson atuou em diversos segmentos, chegou à vice-presidência na gestão de Rita e assumiu o comando comprometido com a valorização das origens. Em 2024, veio o título inédito do Carnaval de Porto Alegre com “A Trupe da Onça Negra Apresenta: No Palco da Fantasia Entra em Cena a Commedia Dell’Arte”, primeiro troféu do Grupo Ouro conquistado por uma escola de fora da capital.
Em 2025, buscando o bicampeonato, a escola levou “Paraíso Nordestino: Um Repente Encantado de um Povo Arretado!”. O resultado oficial foi o 7º lugar (por punição administrativa), mas o conjunto artístico reforçou a força da comunidade.
Em maio de 2025, Rita Bitencourt reassumiu a presidência, iniciando um novo ciclo de união, reconstrução e valorização da comunidade — com o compromisso de manter o alto nível artístico e apresentar, em 2026, um grande espetáculo no Complexo Cultural do Porto Seco.
Nesse período, a Prefeitura de Gravataí concedeu um terreno para a construção da quadra definitiva — um sonho antigo, símbolo de resistência, pertencimento e orgulho para toda a comunidade da Onça Negra.
Hoje, a Acadêmicos mantém projetos sociais que atendem crianças, jovens e adultos, reafirmando seu papel como espaço de cultura, inclusão e cidadania.
Entre esses projetos, destaca-se o Acadêmicos do Futuro (2008–2017), iniciativa voltada a crianças e adolescentes para formação de novos talentos (passistas, mestres-salas, porta-bandeiras e musas) — que será retomada no Carnaval de 2026.
Para 2026, a Acadêmicos apresenta “Amazônia Táwapayêra – A Aldeia Guardiã dos Encantos da Floresta!”, celebrando a força dos povos originários e a espiritualidade que conecta o homem à natureza.
